Já estamos na última entrevista da Série Baristas. Esperamos que você tenha gostado das entrevistas, como nós aqui da Flavors também. E para finalizar, hoje quem conta pra gente um pouco de sua trajetória profissional, é uma mulher, a barista Gisele Coutinho, da Pura Caffeina. Confira!
Flavors: Conte-nos como é o seu dia a dia como barista?
Gisele Countinho: Meu dia a dia é um pouco diferente do que estar na máquina em cafeteria. Também já estive nessa posição, e amo. No entanto, trabalho com comércio de pacotes de café e acessórios. O preparo em eventos é focado nos filtrados. No meu dia a dia, além de treinar diversos métodos de café filtrado, como Chemex, Gina, V60, Melitta, Koar, Clever, Kalita, entre outros, para os eventos e também por conta dos estudos para os cursos que ofereço para consumidor final, ainda preciso provar amostras de cafés que compro para revender. É um dia a dia dividido entre o café e a gestão de todo esse processo: compras, financeiro, logística, marketing, comunicação. Eu mesma faço tudo.
Flavors: Quais cursos e especializações são necessários para ser um bom barista?
Gisele: Cursos técnicos sobre café, do café verde até o preparo, mas curso na área de atendimento e de gestão também ajuda. Não basta trabalhar em uma cafeteria e extrair ótimos cafés, manter sua estação limpa, se você não souber o custo dos produtos e serviços oferecidos pelo lugar. Você não precisa ser o dono ou a dona da cafeteria ou de um negócio de café para entender um pouco sobre a gestão do espaço.
Flavors: O que você mais gosta e o quais são os principais desafios desta profissão?
Gisele: O principal desafio também é o que mais amo: as mudanças constantes do café. Tecnologia do campo até a xícara, novos pensamentos, novas perspectivas. Todo o ano o salto é enorme na evolução do café. É preciso estar sempre atenta.
Flavors: Comente sobre a participação da mulher neste universo de café e de barista:
Gisele: Fazemos qualquer coisa sendo homem, mulher, não importa. O grande problema é uma visão e práticas que contrariam essa afirmação. Pessoas que acham que não somos capazes. Uma mulher no café firme das suas convicções muitas vezes é vista como arrogante. Espera-se que nós sejamos doces e delicadas. Essa não é a realidade. Somos pessoas que trabalham com café. Algumas são doces, outras são menos doces. Tenho vários amigos homens muito delicados e doces no café. Mais do que eu. Não vejo nenhuma relação disso com o resultado do nosso trabalho. Somos capazes de qualquer coisa. Inclusive pilotar máquinas ou gerir um negócio. No Brasil, temos mulheres a frente de diversos negócios do café e de diversas formações, idades, classes econômicas. Quero ver mais mulheres em publicidades de torradores de café. Quero ver mais mulheres em fotos sobre máquinas de café espresso. No Pura Caffeina procuro sempre ter cafés torrados por excelentes mestras de torra. E entre elas, estão Juliana Ganan, da Tocaya, e Fabiola Jungles, que lidera o Projeto Consolida, que pra mim estão entre os melhores mestres de torra, independente de gênero, no país.
Flavors: Já viveu uma situação engraçada sendo barista ou compartilhando com as pessoas sobre esta profissão? Conte pra gente.
Gisele: Não me lembro de situações engraçadas específicas. Já existiram, claro, mas apesar da diversão e amor pelo café, nosso dia a dia, de trabalhadores do café, é muito sério, com muito suor e muito trabalho. Não é apenas equipamento e utensílio bonito, café cheiroso e gostoso. É rodo, pano de chão, pia, organização, matemática. Muito foco na missão.
Flavors: Qual a sua percepção sobre o mercado de cafés especiais hoje e como você enxerga o futuro?
Gisele: Estamos em um belo momento do interesse do consumidor. Passamos a primeiro consumidor do mundo. O Pura Caffeina existe há três anos e meu faturamento é crescente nesse período. Estamos aquecidos. Conheço cada vez mais produtores jovens se interessando em produzir café de qualidade. Uma geração nova de baristas. Mais pessoas começando a torrar, principalmente fora do eixo MG, SP, RJ. Mas quero ver nosso café mais valorizado fora do país e aqui, também. Quero ver cafeterias se mantendo por mais tempo, negócios mais sólidos. Produtores sendo levados a sério. Pois, infelizmente, não é toda torrefação que valoriza produtor. Muita gente faz curso de barista, mas poucas dessas pessoas trabalham na área. Sonho em ver o barista mais valorizado e ganhando mais. Para isso, é preciso levar a profissão mais a sério e fazer mais, estudar muito, se dedicar. Mas, sou muito otimista e tento me olhar e ver o que posso fazer para realizar todos esses sonhos.
Flavors: Complete a frase: Barista, além da paixão por cafés, uma profissão…
Gisele: … muito séria e que exige disciplina.